Com a filiação ao PSD marcada para o dia 10 de março, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, articula a troca de partido com a condição de manter a ingerência sobre o PSDB, legenda à qual está filiada desde 2016, quando disputou e ganhou — pela primeira vez — a prefeitura de Caruaru, no Agreste.
O desafio agora é migrar para a base de apoio do presidente Lula (PT) sem perder a ingerência sobre a sigla tucana, em partes, para não ceder o controle ao grupo do presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), Álvaro Porto (PSDB), seu desafeto político.
A sigla tucana elegeu 32 prefeitos em Pernambuco em 2024, e se tornou a legenda com o maior número de prefeituras. O PSB, partido do prefeito do Recife, João Campos, virtual adversário de Raquel no próximo ano, elegeu 31.
Atualmente, o PSDB funciona em federação com o Cidadania. Uma das possibilidades aventadas no meio político é que a sigla tucana planeja fechar federação com o Podemos, partido que tem o ex-senador Armando Monteiro Neto no controle no estado, assim que a união com o Cidadania chegar ao fim legalmente, em 2026.
Segundo fontes ouvidas pelo g1, um dos cenários com que Raquel Lyra trabalha é a transferência da vice-governadora Priscila Krause do Cidadania para o PSDB. A governadora está tratando do assunto diretamente com o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, e o deputado federal Aécio Neves (MG).
Raquel Lyra, até o momento, ainda não se pronunciou publicamente sobre a entrada na legenda de Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD. A assessoria da governadora também não divulgou detalhes do evento de filiação. Sabe-se, por enquanto, que Kassab está enviando convites a correligionários e aliados.
Além de ter sido a legenda que elegeu o maior número de prefeituras Brasil afora, 878 no total, o PSD tem hoje 44 deputados federais, 14 senadores e três governadores.
Apoiadores de Raquel apontam vantagens políticas da movimentação que está prestes a ser formalizada.
A primeira é a entrada, oficialmente, na base de apoio do presidente Lula. Uma das intenções da governadora é ter o apoio — ou a neutralidade — de Lula na eleição de 2026, evitando a possibilidade de o presidente subir apenas no palanque de João Campos numa eventual candidatura do prefeito do Recife ao Palácio do Campo das Princesas.
O cenário almejado por aliados de Raquel é semelhante ao que ocorreu na eleição de 2006. Naquele ano, Lula teve dois candidatos ao governo de Pernambuco: Humberto Costa (PT) e Eduardo Campos (PSB).
Na ocasião, Lula não apoiou exclusivamente nenhum dos seus dois ex-ministros. No segundo turno, Lula apoiou Eduardo contra o então governador Mendonça Filho, à época do PFL.