O dia 10 de janeiro de 2021 ficou marcado na vida dos recém-casados Adrielly Monteiro e Adalberto Ferreira. Esta foi a segunda data escolhida para o casamento, já que a cerimônia precisou ser adiada devido à pandemia do coronavírus. No matrimônio, o casal, que é surdo, teve uma surpresa: o padre Aluizio Ricardo Aleixo fez a celebração na Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Residente em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, o sacerdote, que é diretor espiritual no seminário Nossa Senhora das Dores, revelou ao G1 como aprendeu Libras. “Fui evangelizado por um surdo, que me contou a parábola da ovelha perdida”, disse.Na parábola, o pastor sai à procura de uma ovelha e, quando a encontra, a chama pelo nome. “Nessa hora, ele colocou o nome dele. Vendo-a machucada, o pastor estende a mão e a ovelha responde ao sinal com mais força. Ele me fez a pergunta: ‘Por que?’, mas ele mesmo respondeu: ‘Porque a ovelha era surda e precisava que o pastor fizesse um sinal’. Entendi naquele momento que fui chamado a realizar também essa missão”, explicou o padre, que tem 14 anos de sacerdócio.
Adrielly é professora de Libras e o marido dela, Adalberto, além de também ser professor de Libras, é tradutor de sinais internacionais e trabalha como assistente de suprimentos e materiais em um hospital. Eles estão juntos há oito anos, sendo sete de namoro e um de noivado. O matrimônio foi realizado em Lajedo, no Agreste.
Para o casamento, Adrielly e Adalberto convidaram dois profissionais intérpretes de Libras, mas foram surpreendidos ao verem que o padre Aluizio falou em português e Libras de forma simultânea. “Ficamos muito felizes, é claro […]. Esse sinal foi acolhedor e respeitoso para com a gente e os nossos convidados surdos, pois a Libras é a nossa primeira língua”, ressaltou a noiva.
Sobre o casamento, o padre Aluizio afirmou que a experiência de celebrar ao matrimônio de Adrielly e Adalberto foi muito boa. “Cada matrimônio é único. Mas dos surdos e, em especial, de Adrielly e Adalberto, ficou marcado porque percebi a atenção e participação de todos surdos e ouvintes. A participação da pessoa com deficiência na vida da Igreja é necessário e importante”, pontuou.
Ao G1, a professora contou que tanto ela como Adalberto nasceram ouvintes, mas ficaram surdos em decorrência da meningite. “No advento da infecção pelo vírus, Adalberto tinha 2 anos e eu 8 meses”, completou Adrielly. Quem registrou todos os momentos da celebração foi o fotógrafo Djeison Zennon. Ele contou que este foi o primeiro casamento em Libras que ele fotografou ao lado da esposa, a também fotógrafa Penha Ferreira.
“No início, achamos que teríamos dificuldades porque não sabíamos nada de Libras. Na reunião que tivemos com a Adrielly antes do casamento, veio a mãe e uma amiga dela para nos ajudar a entender as dúvidas dela, e também pra passar as nossas explicações. No dia do ensaio tudo aconteceu muito naturalmente. Como Penha sempre vai comigo, foi fácil pois a gente mostrava pra eles como eram as poses, e eles são excelentes observadores, pegavam muito rápido”, lembrou.
Após o casamento de Adrielly e Adalberto, o casal de fotógrafos acrescentou uma nova meta para 2021: “A necessidade de aprender Libras”, finalizou.
Com informações do G1 Caruaru