No dia do padre, vamos conhecer um pouco da história do sacerdote negro que não tem sobrenome;

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Os pés sujos de barro e a barriga doendo de fome. Lembranças de quem, desde criança, sabia que para ser alguém na vida, bastava ser. Francisco Miguel conta que, na infância, não tinha nada, e há quem diga que ainda não tem. Mas, segundo ele, tem muito.

Em um barraco, sem ao menos água encanada, no meio de uma favela em São Paulo, Francisco nasceu. O extremo da pobreza financeira fez com que ele ficasse sozinho no mundo. “Já era só Deus e eu naquela época”, afirma o atual padre de Curitiba.

As chamas de um incêndio destruíram o restante do que ele poderia carregar de sua descendência. O fogo que tomou conta de um dos orfanatos por onde passou, queimou a certidão de nascimento dele e de alguns colegas.

Pequeno, com medo e sem ninguém, Francisco não se lembrava da última vez que tinha tido um lar de verdade. Lembrava muito menos o sobrenome que tinha. Ele recebeu o nome fictício de ‘Miguel’ para complementar seu registro e conseguir refazer documentações para seguir a vida.

Sessenta e cinco anos depois, para ele, o que fez falta durante toda a sua trajetória, não foi um amontoado de letras na sequência do nome, mas sim o afago de uma mãe ou, simplesmente, jogar bola com um pai.

O tom de voz manso, sorriso tímido e os atuais poucos cabelos grisalhos, indicam que, talvez, para Francisco, tudo tivesse que ser exatamente assim, para que ele fosse considerado, em unanimidade pelos que o conhecem, exemplo de força e persistência.

Conforme a arquidiocese, na época não era comum a presença de negros no sacerdócio, sendo Francisco o provável segundo padre negro na história da arquidiocese da capital – o primeiro foi Eurípedes Olímpio de Oliveira e Souza, ordenado em 1916 e falecido em 1958. Francisco Miguel se considera muito “rico” atualmente. Ele destaca que engana-se quem relaciona riqueza a muito dinheiro. O padre relembra que peregrinou entre um orfanato e outro, idas e vindas de São Paulo para o Paraná.

Morou em muitas cidades, como Paranavaí, Conchas (SP), Ribeirão Claro, Curitiba, além de cidades metropolitanas da capital. Ignorando os “nãos” que recebeu e tendo fé no que possuía na essência, ele sobreviveu.

Do G1