Municípios de pelo menos 18 estados do país estão sem os remédios usados para tratar a hanseníase, uma combinação de três antibióticos chamados de poliquimioterapia, ou PQT.
O dado é do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), que já reuniu nos últimos 15 dias mais de 100 relatos de pacientes que estão desde o 2º semestre de 2020 sem tratamento.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta aos governos que dependem da importação da poliquimioterapia, caso do Brasil, em dezembro de 2019. Outros alertas e recomendações foram emitidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) diretamente ao governo brasileiro desde então. Segundo a ONU, o Ministério da Saúde apenas tem respondido que cuida do caso. Procurado pelo G1, a pasta não se pronunciou sobre medidas contra o desabastecimento.
As entidades nacionais ligadas à hanseníase também têm se mobilizado para pressionar o Ministério da Saúde há mais de seis meses. Em agosto, tanto o Morhan quanto a Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH) realizaram audiência com o Ministério Público Federal (MPF) para relatar a crise.
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Hansenologia, Claudio Salgado, a situação se tornou crítica em agosto, quando acabaram todos os estoques de Pernambuco, de São Paulo e do Pará. O dermatologista atua no estado paraense e conta que, naquele mês, que pelo menos 20 pacientes foram diagnosticados com a doença e enviados para a casa sem o tratamento.
Mais de 40 mil brasileiros estão em tratamento de hanseníase e dependem desses remédios, segundo dados de agosto de 2020 do Ministério da Saúde. Procurado, o Ministério da Saúde do Brasil não deu resposta sobre o assunto.
Segundo especialistas a forma como o Brasil trata a hanseníase está defasada. Apesar de ser o país com o maior número de casos de hanseníase por habitantes no mundo – diagnosticamos cerca de 30 mil novos casos por ano -, o Brasil, igual a países da África, não produz medicamentos para tratar a doença.
Os remédios do PQT que chegam no país são, há mais de 40 anos, doações diretas da OMS, que são repassados ao Sistema Único de Saúde (SUS) e não são vendidos nas farmácias.
Assim, todo paciente brasileiro depende exclusivamente do bom funcionamento do SUS para ter acesso ao tratamento.
A relatora especial da ONU lembra que a Índia tem a segunda pior taxa de novos casos de hanseníase por habitantes, atrás apenas do Brasil, mas não passou pela crise porque é produtora e exportadora mundial do PQT. Os antibióticos utilizados no SUS vêm da Índia.
Com informações do G1