Até que enfim, Repente é reconhecido como patrimônio cultural do Brasil

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Cantoria com os poetas Afonso Pequeno e Arnaldo Pessoa, no aniversário de São José do Egito, 2020 - Foto: Erbi Andrade

Depois de muita luta para quem faz da arte do repente o seu sustento, a manifestação artística que faz parte da identidade da região Nordeste foi reconhecida como patrimônio cultural do Brasil nessa quinta-feira (11) durante reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

O pedido de registro da cantoria foi formalizado em 2013 pela Associação dos Cantadores Repentistas e Escritores Populares do DF e Entorno.

Desde então, o Iphan iniciou o processo de registro, que inclui a descrição da arte e a documentação, inclusive com registro audiovisual, formando um dossiê.

O repente conta com diferentes estilos e sobrevive na cantoria de violeiros, no embolado feito com pandeiro – caso da dupla Caju e Castanha – nas mesas de glosas e até mesmo no aboio do vaqueiro no sertão.

De acordo com os estudos do Iphan, os fundamentos do Repente são métrica, rima e oração (coerência e qualidade do conteúdo).

A rima diz respeito à identidade do som no final dos versos. Já métrica se refere à técnica de improvisar e às características da linguagem: quantidade de versos, modalidade das estrofes e acento de cada verso.

O dossiê de registro documenta mais de 50 modalidades dessa arte. Há os versos heptassílabos, com acentuação tônica obrigatória na sétima sílaba. Também tem os decassílabos, em que o acento obrigatório está na terceira, sexta e décima sílabas de cada verso.

Repente é poesia. Cantada e improvisada. Em linhas gerais, é um diálogo poético em que dois repentistas se alternam cantando estrofes criadas naquele instante ao passo em que se acompanham com toques de violas, define o dossiê.

De acordo com o Iphan, com o reconhecimento, o Repente foi inscrito no Livro de Registro das Formas de Expressão, onde também estão registrados a Roda de Capoeira, o Maracatu Nação (PE), o Carimbó (PA) e a Literatura de Cordel.

A partir de agora, a arte deverá a ser alvo de políticas públicas para fomento e preservação.

De acordo com o Iphan, há registros da prática do Repente desde meados do século XIX nos estados de Pernambuco e Paraíba.

No início do século XX, a manifestação teve papel na difusão do rádio na região. A maior parte dos repentistas tinha origem rural, vivendo no interior e cantando para plateias camponesas. Uma realidade que se transformou na década de 1950, com os cantadores se fixando nas cidades à procura de ferramentas que auxiliassem a atuação, como o rádio e o correio.

Aos programas radiofônicos, no decorrer das décadas de 1980 e 1990, se somaram a gravação de discos e a realização de festivais – que mantiveram a origem rural dos poetas. Mais recentemente, segundo o Ipahn, a internet se tornou mais uma ferramenta para divulgação de cantorias e festivais.

Com informações do G1-RN